Em tempos de assassinatos de PMs, corrupção, lavagem de dinheiro, greves nos hospitais, dou graças a Deus por não precisar de um médico, não ser mais um número das estatísticas brutais, por não possuir um carro imponente que seja cobiçado por bandidos, nem ter dinheiro para ser roubado.
Em tempos atuais, o melhor do que não ter, é não precisar ter.
Quem precisa de um carro de alto luxo, se um popular simples nos leva para os mesmos lugares? Quem precisa de um celular que faz mirabolâncias se a função principal qq aparelho pode fazer? Quem precisa de grande quantidade dinheiro se precisa-se tão pouco para viver?
Em tempos atuais, ter menos é melhor.
A violência e a impunidade nos aprisionam.
E nós estamos lá rodeados de grades, de vidros blindados, somos impedidos de escolher, de ter mais conforto, de ter liberdade de ir e vir, de ser e viver. Hoje pautamos toda nossa vida, nosso consumo está calculado, melhor perder pouco caso sejamos assaltados.
E lá se vão mais gastos com seguros, do carro, do computador, de vida.
Daí, de repente, me dou conta do que tenho em volta, não é muito. Algumas roupas que ninguém rouba, alguns livros que não estão na lista dos itens cobiçados pelos assaltantes... mas me deparo com uma riqueza sem tamanho: o que sou, o que estudo, a vida que levo e os meus gatos.
Estou aqui, sentada na cama, escrevendo um artigo, e eles estao a minha volta, ronronam, dormem, acordam, brincam, sobem em cima do laptop, querem mais atenção. Obedeço de forma cega, páro tudo e dou o que exigem, chamego.
Daí vem uma sensação de prazer inigualável: de segurança, de conforto e de extrema felicidade.
Aos meus queridos, FreDi e GiGi, dedico esse texto, pois em tempos tristes desesperados e sem esperança, só a inocência e carinho deles conseguem me deixar a parte, mesmo que por um pequeno momento, dessa história trágica que se tornou a vida.