fevereiro 13, 2007

Aritmética

Uma das coisas que mais gosto de ler são os pensamentos da Fernanda Young, ganhei o último livro dela Artimética de uma amiga no meu aniversário e estou comendo o livro com farinha.

Não que eu a ache o suprassumo da literatura, e ela realmente não é, mas gosto das tiradas sarcásticas que ela dá, adoro as comparações e as observações sobre o ser humano, homens e mulheres vistos pela ótica metafórica da Fernanda.

Às vezes, eu a acho meio neurótica mas ela sabe como ninguém fazer comédia utilizando as próprias desgraças, assim, desfaz qualquer possibilidade de má interpretação de terceiros...

Ela é ela, e ponto final. Gosto disso, a Fernanda Young não tem compromisso nenhum em querer agradar os outros, assim como eu, sou gentil pelo simples fato de acreditar na gentileza, que é um bem, um valor interno humano que eu insisto em cultivar e demonstrar... (apesar das muitas vezes que quebrei a cara...)

Lendo logo a primeira página de Aritmética, me deparo com a seguinte frase:

"Minha grande e pior arrogância é que só tolero pessoas talentosas..."

É isso. Somos assim, tolerar é mais que conviver aguentando, é se submeter, e pra que nos submetamos precisamos admirar o outro, encontrar algo nele que nos faça conviver com as mazelas humanas... nada mais difícil e ao mesmo tempo nada mais prazeroso quando enfim encontramos a quem nos submeter, um talento de fato.

Vivemos assim, o céu e o inferno, a busca cessa... encontrar a grande mola que faz tudo funcionar, uma vontade de querer estar junto surge, descobrir até onde vai aquela criatividade e talento passa a ser mais que uma vontade... será nato? Será construído? Tento beber daquela mesma água, da saliva, numa tentativa que tudo seja passado pra mim por osmose.

Tentiva sempre frustrada, claro.

Até porque tenho os meus próprios talentos, e sim, sei exatamente quais são, além disso tenho plena consciência de como, quando e com quem funcionam. É fácil jogar com os nossos talentos quando temos plena noção onde começam e onde terminam. Sei os meus meios, as minhas pendências...

Observa-se o olhar admirado dos outros, presto atenção no que mais agrada, traço um perfil, e começo a negociação velada, só minha, uma verdadeira construção da imagem que eu tento passar, às vezes é o melhor de mim, outras vezes não.

Estar ao lado de gente talentosa é assim, um contínuo medo de perder. Esse é o inferno. A perda do outro, do talento do outro faz com que de repente a gente se sinta meio solto, meio só. Temos agora somente os nossos próprios pensamentos, e a busca por outro talento continua... outra visão, outros referenciais, outras certezas e verdades... nada mais instigante.

Adoro a fase da conquista.


É "algo como valor de se viver grandes amores, apesa de, em se vivendo, ficarmos condenados, também, a grandes desilusões."


Céu e inferno.

Pago o preço que for, à vista mesmo.

Até porque ter a certeza que a gente ficou, marcou uma pessoa, faz valer a pena mesmo quando não se continua a tal história. O tempo passa e me deixa no mínimo com o meu ego inflado, porque o outro dificilmente encontrará alguém como eu. Duvido.

Não é pra ser uma questão de saudade, não, nao rola saudade. E nem surge o sentimento do talvez, e muito menos da vontade de recomeçar e voltar, não é isso. Um talento descoberto e já decifrado já não vale mais à pena, acabou o mistério, simples assim...

Apenas foi, e uma outra história está para começar, a vida é assim, como dizem é uma imensa colcha de retalhos, eu prefiro pensar que os meus retalhos são as tais... pessoas de talento, as chamadas talentosas.

2 comentários:

mariluca disse...

Menina!
queria ainda ter o gás que tu tens em escrever no blog! Estou tentando retomar o meu, mas prometo nunca mais prometer nada...rs...

Vê se visita meu blog!

www.noisdebuzum.blogspot.com

e seja a primeira a ler o esboço da minha crise de 1/4 de século!

www.1quartodeseculo.blogspot.com
bjs

Diogo Lyra disse...

Fernanda Young é uma pessoa interessantíssima e, apesar de não ir muito com a cara dela, sou obrigado a confessar que gosto bastante dos seus textos. Talvez, até, se a conhecesse, a tolerasse um pouquinho...