"O peixe vê a gaivota
Ela mergulha no céu
Ele voa na água"
Ela mergulha no céu
Ele voa na água"
Oto Satyro
Quando li o poema acima, que me foi mandado em meio a uma madrugada de papos via internet, me veio uma sensação de ternura... além do fato de estar namorando um poeta (o que é muito bom) ao ler a palavra "G A I V O T A" me lembrei da minha infância, do meu colégio, da minha formação. Lembrei de Fernão Capelo Gaivota.
Lembro que todos os anos, ou quase todos os anos, os professores de matéria Formação Religiosa passavam um filme pra gente ou indicavam a leitura da história do Fernão, que era uma gaivota que não se calou perante o determinismo cultural, era um revolucionário entre as gaivotas.
Lembro que a maioria dos meus colegas não davam a mínima pro filme, até porque a história já era bem conhecida de todos. Só fazendo um parênteses:
( quem estudou do Salesianos sai de lá sabendo duas coisas: a vida de Dom Bosco, e a história de Fernão Capelo Gaivota, rs)
voltando...
Então, para muitos era tudo muito chato, mas alguma coisa naquele livro, ou naquele filme me chamava a atenção: a persistência de uma gaivota em questionar os padrões sociais.
Me lembro bem o caso: As gaivotas tinham medo de voar a longas distâncias e não chegavam perto da água, viviam brigando por cada pedaço de peixe, viviam cercando os navios pesqueiros, mas Fernão descobriu um jeito de utilizar o voo em beneficio próprio, dar mergulhos, voar bem alto. No entanto, as outras gaivotas o chamavam de louco, e ele era uma ameaça.
Isso porque uma gaivota nunca contesta o Conselho do Bando, mas a voz de Fernão ergueu-se gritando:
"Quem é mais responsável do que uma gaivota que descobre e desenvolve um significado, um propósito mais elevado na vida? Passamos mil anos lutando por cabeças de peixe, mas agora temos uma razão para viver, para aprender, para descobrir, para sermos livres!"
Fernão Gaivota passou o resto dos dias sozinho, mas voou muito além dos Penhascos Longínquos. A solidão não o entristecia. Entristecia-o que as outras gaivotas se tivessem recusado a acreditar na glória do vôo que as esperava. Recusaram -se a abrir os olhos e a ver.
Aprendia cada vez mais.
Aprendeu que um eficiente mergulho a grande velocidade lhe dava o peixe raro e saboroso que vivia três metros abaixo da superfície do mar. Já não precisava de barcos de pesca nem de pão duro para viver.
Aprendeu a dormir no ar, estabelecendo um percurso noturno pelo vento do largo, cobrindo cento e cinqüenta quilômetros desde o ocaso até a aurora.
Fernão Gaivota descobriu que o tédio, o medo e a ira são as razões porque a vida de uma gaivota é tão curta, e, sem isso a pertubar-Ihe o pensamento, viveu de fato uma vida longa e feliz.
Ao cabo de três meses, Fernão tinha mais seis discípulos, todos banidos, mas ainda curiosos acerca desta estranha e nova idéia de voar.
Quando o sol surgiu no horizonte, havia quase mil pássaros em volta do círculo olhando curiosamente para tudo que estava sendo dito. Pouco lhes importava serem vistos ou não, e escutavam, tentando compreender.
Fernão Gaivota falou de coisas muito simples - que as gaivotas tem o direito de voar, que a liberdade é própria da sua natureza.
Acredito que como nessa metáfora há muitos de nós que não valorizamos o diferente, não respeitamos a novidade por causa das convenções, medimos as pessoas pelo que representam na sociedade, avaliamos os outros através do status social ou título que possuem, e prejudicamos a nós mesmo quando agimos e pensamos de forma preconceituosa, por que rir de uma piada que faz alusão a uma cor diferente da nossa? Por que rir de uma piada que faz com que a orientação sexual diferente seja motivo de escárnio? Isso seria um real motivo de graça e brincadeira?
Acredito que não.
O preconceito pode estar em qualquer lugar, dentro de nós mesmos, dentro das nossas piadas, dentro da educação que damos ao nosso filho. Por que afinal menina usa rosa e menino usa azul???
Bobagem!
Uma vez lendo um livro da Fernanda Young, ela disse a seguinte frase "os olhos de preconceito são a pior deformidade para um rosto!"
Bravo.
Concordo com ela.
Livro: A História de Fernão Capelo GaivotaRichard BachRio de Janeiro, Editorial Nórdica Ltda., 1970
Um comentário:
Legal o texto!
Não vi o filme no Salê, será que tem SAC lá? Nem no Domingos Sávio...
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