janeiro 22, 2007

A necessidade que não procede

Será que em se tratando de relacionamento a dois... realmente precisamos do outro?

Será que deixamos de viver outra paixão, ou viver outras experiências sexuais por causa da necessidade que encontramos em quem está com a gente?

Será que quando o relacionamento acaba, quando nos vemos sem o outro (que julgávamos precisar) ficamos orfãos?

Meus caros, a resposta é simples : N Ã O!

Vivemos uma mentira que repetimos sempre, como um mantra, escrevemos nos cartões e nos emails "preciso de você" mas na realidade, ninguém precisa de ninguém, porque se há uma relação simbiótica, quando se encontra o momento propício para mudar de par, a gente dá um olé e muda, dá um salto e parte pra outra, aquele que ficou... bem, digamos que passou, simples assim.

Na realidade, acredito que é uma falha nossa pensar que se precisa de alguém para ser feliz, acho que deveríamos pensar que o outro vem para dar uma cor a nossa felicidade que já existe, a paixão vem como um espécie de purpurina, que dá um brilho diferente ao que já está bom.

Não me permito sofrer pela perda, até sofro um pouco, até porque tanto tomar a decisão de terminar um namoro ou levar "um pé na bunda" machuca muito, pelo menos para mim, sinto da mesma forma. Dói fazer o outro sofrer... pra mim dói mais, porque desamar ( e dar a notícia ao outro) é muito pior que não ser mais amada e receber a notícia.

Talvez isso seja porque eu sempre tenho um Az na manga, sei me curar, lambo minhas feridas, minha saliva é curativa.

Provavelmente porque tenho amigos e amigas muito amorosos, uma família presente e uma gata que me dá carinho, chamego não me falta, se a carência bate, tenho sempre uns carinhas de prontidão, gente que faz de tudo pra me garfar, mas que como eles mesmos falam, eu uso sabão e escorrego feito peixe na água...

Não fico, não páro, não quero delimitar... não quero fazer parte da necessidade de ninguém, porque não há quem me faça acreditar que alguém verdadeiramente necessitaria de mim... como eu tem outras tantas mulheres maravilhosas que poderiam ser precisadas...

Eu preciso sim... da minha manicure, do meu sushi man favorito, da minha terapeuta (que a cada dia tem acertado demais os meus ponteiros), eu preciso dos serviços que me prestam.

E só.

O dia que eu precisar de algum homem, vou em algum catálogo e contrato um.

Exuberante e Lindo.

Mas continuo sem precisar, prefiro que não precisem de mim... assim, poderei viver o melhor com ele, curtir as dores e os amores, numa relação igualitária e desnecessária...

Pensando nisso, lembrei de um poema do Roberto Freire.


Pra Quem Ainda Vier a me Amar

Quero dizer que te amo só de amor.
Sem idéias, palavras, pensamentos.
Quero fazer que te amo só de amor.
Com sentimentos, sentidos, emoções.
Quero curtir que te amo só de amor.
Olho no olho, cara a cara, corpo a corpo.
Quero querer que te amo só de amor.
São sombras as palavras no papel.
Claro-escuros projetados pelo amor, dos delírios e dos mistérios do prazer.
Apenas sombras as palavras no papel.
Ser-não-ser refratados pelo amor no sexo e nos sonhos dos amantes.
Fátuas sombras as palavras no papel.
Meu amor te escrevo feito um poema de carne, sangue, nervos e sêmen.
São versos que pulsam, gemem e fecundam.
Meu poema se encanta feito o amor dos bichos livres às urgências dos cios
e que jogam, brincam, cantam e dançam fazendo o amor como faço o poema.
Quero a vida as claras superfícies onde terminam e começam meusamores.
Eu te sinto na pele, e no coração.
Quero do amor as tenras superfícies onde a vida é lírica porque telúrica,
onde sou épico porque ébrio e lúbrico.
Quero genitais todas as nossas superfícies.
Não há limites para o prazer, meu grande amor, mas virá sempreantes, não depois da excitação.
Meu grande amor, o infinito é um recomeço.
Não há limites para se viver um grande amor.
Mas só te amo porque me dás o gozo e não gozo mais porque eu te amo.
Não há limites para o fim de um grande amor.
Nossa nudez, juntos, não se completa nunca, mesmo quando se tornamquentes e congestionadas, úmidas e latejantes todas as mucosas.
A nudez a dois não acontece nunca, porque nos vestimos um com o corpo do outro, para inventar deuses na solidão do nós.
Por isso a nudez, no amor, não satisfaz nunca.
Porque eu te amo, tu não precisas de mim.
Porque tu me amas, eu não preciso de ti.
No amor, jamais nos deixamos de completar.
Somos, um para o outro, deliciosamente desnecessários.
O amor é tanto, não quanto.
Amar é enquanto, portanto.
Ponto.

Um comentário:

Anônimo disse...

concordo, mas também existem coisas que são eternas enquanto duram... e só.