fevereiro 28, 2007

Antes e depois... da chuva

Uma vez um amigo paraense me contou que em sua cidade natal as pessoas combinavam os programas a partir da chuva que caía no período da tarde... achei curioso, "vamos ao cinema depois da chuva?"

Essa expressão me veio a mente quando ontem eu me peguei sozinha lendo um livro no restaurante japonês enquanto esperava algumas amigas, minha irmã participaria do jantar e me ligou apressada... "Hilaine, eu já estou do seu lado da ponte, tô no pedágio!"

Fiquei pensativa... rascunhei alguns pensamentos num guardanapo...

Estar do outro lado da ponte, ou do lado de cá da ponte, ou do seu lado da ponte, etc, etc, etc, são expressões muito comuns aos niteroienses. É curioso ter 13 kilômetros de ponte que me separa do resto do mundo, pelo menos do mundo que me interesse e que eu entendo e chamo de meu.

É complicado saber que estou longe dos meus amigos, do meu lugar favorito, do melhor cinema, da pizza mais saborosa ou da paisagem mais marcante, isso tudo por causa de uma reles ponte...13 km de asfalto suspenso;

Nossos referenciais e tempo giram em torno desses 13 kilômetros... se trabalhamos no Rio, fazemos hora num happyhour por causa do movimento de volta pra casa, por causa do mau trânsito tal ponte. Se temos que chegar cedo ao Rio, acordamos mais cedo ainda na tentativa de calcular o engarrafamento que a ponte nos impõe diariamente.

Meus pais, moradores e amantes de Nikiti city simplesmente não entendem meu apego a cidade do Rio, reclamam do meu sumiço durante o fim de semana, mas é algo incrontrolável, eu moro e trabalho em Niterói, mas quando eu posso, e eu só posso durantes os fins de semana, eu nego minhas origens e me perco nas ruas agitadas, coloridas e ensolaradas do Rio.

Vida dupla cansa.

E a minha me faz sentir como se eu estivesse sempre fazendo uma viagem de reencontro, como alguém que namora a distância e só pode ver o amado durante as folgas e finais de semana. É assim... vivo com um, mas amo outro. E quando posso lardo o marido (Niterói) e vou ao encontro do amante (o Rio).

Os amigos e peguetes momentâneos me ligam e eu planejo, agendo e combino a partir das minhas idas e temporadas no Rio... E eles teiam em me fazer a pergunta "quando você vem pra cá?"

E eu tento encontrar os diferentes grupos, numa tentativa sempre frustrada de fazer todos os programas com todos os amigos... mas o que importa é que quando eu cruzo a ponte e chego na cidade que eu chamo de minha.

Eu simplesmente me sinto em casa, tiro o sapato e ando na rua descalça, deito no sofá e descanso os pés na mesinha de centro.

7 comentários:

Desastrólogo disse...

Engraçado, eu estou fazendo o caminho inverso, e redescobrindo Nikity. è lógico que vida cultural e boêmia é no Rio, mas, meu bem, para mim, que trabalho na Zona Oeste e na Barra, a noção de que Niterói é melhor que o subúrbio carioca (do Andaraí em diante digamos) é plena. E acho que há um certo charme nesse incômodo com os engarrafamentos na ponte - nos quais pelo menos, não há risco de arrastão: sempre sinto um alívio quando o ônibus passa da cabeceira da ponte, após o Caju, vindo para os 13 km.
Creio que o seu "amante" é constituído pelo centro e pela Zona Sul (e não estou te recriminando, não, você está certíssima). Pior é MonMarri, para quem a civilização no Rio se restringe à área que vai da Raul Pompéia, em Copacabana, ao Mirante do Leblon e ao túnel Zuzu Angel, com digamos, uma extensãozinha até o início da Voluntários. Rsss. bjs.

gigi disse...

Agora eu tb terei essa relação com a ponte! Começo na UFF na outra semana! Beijos, gata.

gigi disse...

Agora eu tb terei essa relação com a ponte! Começo na UFF na outra semana! Beijos, gata.

gigi disse...

Agora eu tb terei essa relação com a ponte! Começo na UFF na outra semana! Beijos, gata.

Nelsinho disse...

No início da década de 80, eu simplesmente não suportava passar um dia de Sábado sem atravessar para o Rio com a família, não raramente sem destino certo!...

Agora estou meio traumatizado e, cruzar a ponte como o fiz a noite passada, para ir a um restaurante com show de jazz encontrar amigos, passou a ser uma diversão carregada de stress, principalmente na volta, depois da meia noite!


Nelsinho

André Figueiredo disse...

O pior é que todos os comentários, mesmo os discordantes, apontam pra uma percepção muito próxima da sua.
Como todo bom marido, Niterói é tranquilo, apesar de sem graça.
Como todo bom amante, o Rio produz tensão e medo, mas é uma delícia.
Beijos.

Ana Priscila Freire disse...

vem! vem! vem! :)