abril 07, 2007

Xico Sá... sempre!

Copiando e colando. Sempre que vale à pena vou copiar e colar. Copiei e colei um texto do Xico Sá. Deliciosamente escrito, concordo com a idéia... odeio emails curtos e apressados, sinto falta de letra escrita, borrada, garranchos afins.

Ai vai:

PELA VOLTA DA CARTA DE AMOR -PARTE II DA CAMPANHA

A carta escrita à mão, com local de origem, data, saudações, motivos, despeço-me por aqui, papel fininho e pautado, pelos Correios, mr. Postman, como na música. Como canta o rei Roberto, escreva uma carta de amor, e diga alguma coisa por favor.

Pela volta da carta de amor, com selo carinhosamente lambido.

Chega de emails lacônicos e apressados. Debruce a munheca sobre o papiro e faça da tinta da caneta o seu próprio sangue.

Não temas a breguice, o romantismo, como já disse a pessoa do sr. Álvaro de Campos, todas cartas de amor são ridículas, e não seriam de amor se ridículas não fossem.

A carta, mesmo com todas as modernidades e invencionices, ainda é o melhor veículo para declarar-se, comunicar afinidades e iniciar um feitio de orações.

O que você está esperando, vá ali na esquina, compre um belo papel e envelopes, e se devote.
Se tiver alguma rusga, peça perdão por escrito, pois perdão por escrito vale como documento de cartório.


Se o namoro ainda não tiver começado, largue a mão dessas cantadas baratas e internéticas e atire a garrafa aos mares. Uma boa carta de amor é irresistível. Mas não vale copiar aqueles modelos que vêm nos livros. Sele o envelope com a língua, como nas antigas, lamba os selos, esse pré-beijo dos lábios do(a) futuro(a) amado(a).

O sr. Álvaro zumbe de novo aqui ao pé do ouvido: "As cartas de amor, se há amor, têm de ser ridículas”.

Às moças é consentido, além dos floreios e da caligrafia mais arrumadinha, a reprodução de um beijo, com batom bem vermelho, ao final, perto da assinatura.

Uma carta, até mesmo de amizade, deixa a gente comovido, como a que recebi outro dia de Fábio Victor, escriba e amigo do Recife que habita a velha e fria Londres.

Que os amigos,e não apenas os amantes, se correspondam, fazendo dos envelopes no fundo do baú as suas histórias de vida.

Pela volta da carta, que já é por si só uma maneira devota, um tempo que se tira, sem pressa, para dedicar-se a quem se gosta. Pela volta da carta, pois o que se diz numa carta é de outra natureza, é o bem-querer em tom solene.

O que você está esperando, meu amigo, minha amiga, largue esse cronista de lado e debruce-se sobre a escrivaninha. Uma mesa de bar ou de um café também são bons lugares para assentar as suas mal-traçadas linhas.

Um namoro, romance ou cacho somente à base de emails não se sustenta, mais parece uma troca de ofícios, “venho por meio desta”, uma troca de protocolos, mensagens comerciais. Um amor sem uma troca de cartas, nem que seja bem rápida, ainda não é amor... O que você está esperando? Vamos lá, amiga, papel, tinta e derramamento, faz favor!

Não há homem que não se comova com uma carta. Claro, você está certa, sempre haverá aquele medroso, aquele que se espanta com as palavras devotas... É, os fracos se encontram em todas as partes. Estes temem a própria vida, são frios, reconhecerás de longe. Estes não valem uma linha, não valem sequer um email ou pulso telefônico. Não tires o mundo por eles, uma carta nas mãos de um homem tem o poder de uma bela bomba amorosa.

Com o selo bem lambido, língua arrastada lentamente, com ritmo, isso, isso, lindo!!!

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