julho 08, 2006

Por que o Xico Sá diz sempre o que eu penso!???

PELA VOLTA DA CARTA DE AMOR

"A carta escrita à mão, com local de origem, data, saudações, motivos, despeço-me por aqui, papel pautado, pelos Correios, portadores ou menino de recados. A carta, como canta o rei Roberto, escreva uma carta de amor, e diga alguma coisa por favor.

Pela volta da carta de amor.

Chega de emails lacônicos e apressados. Debruce a munheca sobre o papiro e faça da tinta da caneta o seu próprio sangue.

Não temas a breguice, o romantismo, como já disse o velho Pessoa, travestido de Álvaro de Campos, todas cartas de amor são ridículas, e não seriam de amor se ridículas não fossem.

A carta, mesmo com todas as modernidades e invencionices, ainda é o melhor veículo para declarar-se, comunicar afinidades e iniciar um feitio de orações.

O que você está esperando, vá ali na esquina, compre um belo papel e envelopes, e se devote. Se tiver alguma rusga, peça perdão por escrito, pois perdão por escrito vale como documento de cartório.

Se o namoro ainda não tiver começado, largue a mão dessas cantadas baratas e internéticas e atire a garrafa aos mares. Uma boa carta de amor é irresistível. Mas não vale copiar aqueles modelos que vêm nos livros. Sele o envelope com a língua, como nas antigas, lamba os selos, esse pré-beijo dos lábios da futura amada.

De novo Pessoa, para encorajá-los mais ainda: “As cartas de amor, se há amor, têm de ser ridículas”.
Às moças é consentido, além dos floreios e da caligrafia mais arrumadinha, a reprodução de um beijo, com batom bem vermelho, ao final, perto da assinatura.

Uma carta, até mesmo de amizade, deixa a gente comovido, como a que recebi outro dia de Fábio Victor, escriba e amigo do Recife que habita a velha e fria Londres.

Que os amigos,e não apenas os amantes, se correspondam, fazendo dos envelopes no fundo do baú as suas histórias de vida.

Pela volta da carta, que já é por si só uma maneira devota, um tempo que se tira, sem pressa, para dedicar-se a quem se gosta. Pela volta da carta, pois o que se diz numa carta é de outra natureza, é o bem-querer em tom solene.

O que você está esperando, meu amigo, minha amiga, largue esse cronista de lado e debruce-se sobre a escrivaninha. Uma mesa de bar ou de um café também são bons lugares para assentar as suas mal-traçadas linhas.

Um namoro, romance ou cacho somente à base de emails não se sustenta, mais parece uma troca de ofícios, “venho por meio desta”, uma troca de protocolos, mensagens comerciais. Um amor sem uma troca de cartas, nem que seja bem rápida, ainda não é amor... O que você está esperando? Vamos lá, cabrón, adelante chica, papel, tinta e derramamento, faz favor!"

3 comentários:

Anônimo disse...

Minha preocupação com a correspondência eletrônica é o grande risco com falta de memória que ela propicia. Como tudo é muito rápido, fugaz, a tentação do 'delete' é gigante e daí pra falta de registro é um pulo. Como será no futuro quando a gente se lembrar de alguém e não tiver acesso àquilo que ela um dia expressou por nós e para nós?

Anônimo disse...

Não aguento mais ler texto dos outros no seu blog. Se eu quisesse ler os textos do Xico Sá entraria no blog dele e não no seu.

Anônimo disse...

Xico Saco: ruim pra cacete, Hilaine!