fevereiro 04, 2007

Diários de conquista III

A noite prometia, Joana e Rosa, amigas de turma da pós-graduação, combinaram de sair pra dançar e beber todas. Se encontraram na porta de um bar em Botafogo, lugar apertadinho, meio underground, mas com uma qualidade musical inquestionável, resolveram deixar os sambinhas costumeiros e resolveram encarar uma noite de rock inglês anos 80.

Assim, deixaram as saias godês e os vestidos hippie coloridos de lado e vestiram preto... continuavam femininas, mas com um quê de femme fatale... abusaram no lápis preto, no decote ousado e no salto alto.

Joana chegou primeiro, vinha de Laranjeiras e ficou na porta esperando Rosa que morava em Copa. Eram amigas desde os tempos da faculdade e se reencontraram por acaso na turma da pós, ficaram felizes por estarem juntas novamente, e passaram a fazer noitadas nos fins de semana.

Rosa era muito descolada, mais do que Joana que era nova nesse tipo de divertimento. Ela sempre namorava caras muito calmos e caseiros, namoros longos e duradouros, viver uma vida noturna não fazia parte de sua rotina desde então. No fundo, se sentia meio peixe fora d’água, mas investia nessa nova fase, queria conhecer gente nova, lugares cheios e dançar até o sol nascer.

Enfim, Rosa chega pedindo mil desculpas pelo atraso, as duas entram e percebem que o lugar já estava bombando e a música rolando solta. Quando Joana percebe um carinha no canto, totalmente na dele. Gatinho que só... estilinho Lapa, barba, óculos de grau, cabelo volumoso, camisa preta básica... mas ele nem deu bola pra ela. Joana então, entregou-se ao som e curtiu a noite dançando com a amiga.

A madrugada já avançava, apesar das muitas investidas Joana não se interessou por ninguém, ficou com o tal gatinho na cabeça que a essa altura já tinha sumido do seu campo de visão, "ele já deve estar com outra" pensou. Decidiu relaxar e não beber todas, apenas deu uns goles na caipirinha de Rosa, o que foi o bastante para ficar meio altinha, dançou animadamente com sua amiga... cantou fazendo caras e bocas, se sentia feliz.

Quando a noite já estava quase chegando ao fim, Joana percebeu o tal gatinho de frente pra ela, ele dançava atrás de Rosa... ele a olhava incessantemente... ela percebeu e gostou, continuou dançando e cantando os refrões das músicas que conhecia.

Ele enfim encontrou uma brecha e foi se chegando, Joana começou a sentir um calafrio, no fundo ela tinha medo que ele fosse como os outros, do tipo que vão se chegando perguntando o nome, comentando sobre o tempo, ou qualquer coisa do gênero... Ela estava cansada desse papinho mela-cueca que os homens insistem em travar quando abordam as mulheres, nada mais nonsense.

Mas para sua surpresa, ele chegou pegando em sua cintura, dançou junto, colou o seu corpo no dela, ela sentiu a sua respiração, dançaram juntos por alguns minutos e então ele a beijou. Joana sentiu um gosto bom, não era cerveja, parecia ser o gosto dele... meio doce, meio molhado.

Beijaram-se longamente, e ela gostou da idéia de estar sendo beijada por um completo desconhecido, ela não sabia sequer o seu nome, enfim, ela quebrava as regras que sempre havia se imposto... pra que saber o nome, a idade, o que faz, onde mora??? Essas informações não cabiam naquele momento, isso decididamente não importava, a fantasia permeava sua mente, o bonitinho poderia ser o que ela quisesse... um guitarrista de uma banda de rock, ou então um monge recém saído no monastério... em sua mente, ela brincava com as hipóteses e se deixava levar pelas sensações.

Sentiu um tesão louco, e ele correspondia, sentiu o seu volume e isso a fez ficar mais empolgada com a situação toda. Muitos beijos depois, ele perguntou o que queria, conversaram pouco, e continuaram se beijando, era o qeu eles faziam de melhor. Ela ficou sabendo assim que seu nome era Eduardo.

Já era hora de partir, ele entregou-lhe um cartão que Joana prontamente devolveu, disse que não iria ligar, e não ia mesmo, não estava nos seus planos. Sentiu que muitas vezes por questões de educação as pessoas acabam por perguntar pelo telefone, e esse não era o caso. Na realidade, cansara de ouvir lamúrias de amigas que dão o telefone pros caras na noitada e ficavam a semana inteira esperando um contato, que não chega e nem vai chegar. Não queria passar por aquilo, então, fez um exercício e teve uma atitude mais honesta, disse abertamente a Eduardo o que pensava, ele riu, e concordou.

Pagaram a conta, e ele a deixou num táxi, iam para lugares diferentes. Ela pra Laranjeiras e ele pro Humaitá. Despediram-se demoradamente...

Ela estava feliz, havia tido uma noite agradável e inusitada, para ela viver algo tão descompromissado com alguém era novo, uma verdadeira quebra de paradigma.

Joana no fim de semana seguinte voltou ao mesmo bar com Rosa, esticou o pescoço várias vezes para tentar encontrar Eduardo por ali no meio da multidão, mas nunca mais se viram. Entendeu que aquela tinha sido uma história de uma noite só.

Até que...

Joana e Eduardo se reencontraram quase dois anos depois, semana passada, em um outro bar, em uma outra situação. Se reconheceram, conversaram e riram do que tinha acontecido anos atrás... ficaram juntos mais uma vez, mas isso já é uma outra história, que ainda está acontecendo e Joana não quer revelar... ela tem esse direito.

4 comentários:

gigi disse...

Não sei como essa cabeça armazena tantos detalhes! Não conseguiria uma coisa assim... que memória fotográfica!

Amei teu comentário no meu blog.

bêjo.

Unknown disse...

Oi gigi, nem tudo é como parecer ser... nem tudo é verdade, e nem tudo é fato, na realidade, procuro usar da fantasia para tornar a coisa mais prazerosa, nada como uma boa ilusão, pra tornar tudo mais brilhante e colorido, rs

beijos

Hi

Anônimo disse...

Cadê o Fábio jr????beijocas

Ética e Filosofia disse...

Hi, adorei as crônicas que li (a do Fábio e essa), e mais ainda tua resposta ao comentário que me fez recordar Manoel de Melo: 90% é invenção, somente 10% é mentira...
Beijos;
Atilio